quarta-feira, 27 de junho de 2012

BRASIL TEM DÉFICIT EM PROFESSORES DE IDIOMAS

Formar profissionais visando Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 e grandes eventos é desafio 
Formar profissionais que dominem idiomas estrangeiros – especialmente o inglês – para atender a turistas, empresários, jornalistas, esportistas e representantes de delegações internacionais durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 é um desafio. Não há dados oficiais disponíveis que confirmem o déficit de pessoas que falem inglês no Brasil, mas os próprios estrangeiros no país confirmam que têm certa dificuldade para se comunicar.

De acordo com a pesquisadora em aprendizado e bilinguismo Nara Vidal, a inexistência de levantamentos ou bibliografia sobre o tema indica o atraso em debater a questão de forma ampla. “É extremamente difícil encontrar dados. Fontes informais indicam que apenas 10% da população brasileira falam inglês. E essa informação é bastante problemática e difícil de analisar, porque falar inglês é um conceito complexo. Há aqueles que sabem um pouco, sabem muito, são fluentes. Enfim, 5%, 10% ou 30%, seja o que for, não temos nem metade da população brasileira falando inglês”, informou Nara.

A Agência Brasil falou com a enfermeira canadense Celine Purcell, 28 anos, em visita ao Brasil pela segunda vez, sobre a sua percepção da qualidade do inglês quando um estrangeiro é recebido no país. Para ela, é possível entender os brasileiros e se comunicar de forma simples. Celine explicou, no entanto, que não sente segurança para resolver problemas mais complexos, que poderiam envolver a necessidade de vocabulário mais avançado e fluência.

“Pedir uma refeição ou pegar um táxi não é problema. Ainda não passei por grandes dificuldades aqui, mas acredito que se precisasse comprar um remédio, explicar um sintoma no hospital ou me envolvesse em algum problema com a polícia, não conseguiria ser compreendida ou compreender de forma satisfatória”, disse.

Ao perceber a necessidade de os funcionários se comunicarem melhor para incrementar os negócios, Malu Farkuh, dona de uma lanchonete no Mercado Municipal de São Paulo, permitiu que três atendentes cursassem aulas de inglês pelo Programa É a Língua Que Nos Une, da prefeitura da cidade, em parceria com a São Paulo Turismo (SPTuris) e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Elas não saíram falando inglês fluente, mas conseguem se comunicar com os clientes de fora e tem sido positivo. Inclusive, agora vão fazer o curso de espanhol”, disse Malu.

A funcionária dela, Maria de Lourdes Bezerra, 52 anos, se formou em abril pelo programa e foi oradora da turma de 13 alunos. Segundo Maria de Lourdes, falando inglês, as vendas aumentam e a satisfação dos clientes também. 'Agora, posso oferecer mais coisas, antes a gente só ficava apontando. A partir do momento em que a gente fala inglês, muda o tratamento dos clientes em relação à gente. Se eles queriam comer uma coisa, já comem duas, querem experimentar e ficam curiosos”, explicou. Lourdes teve 40 aulas, de nível básico e instrumental, com foco em situações específicas do cotidiano do trabalho.

O mesmo fez a taxista Débora Boltolozi, 34 anos, que participou do Taxista Nota 10, que teve até o início deste ano mais de 11,3 mil inscritos. O curso de idiomas, oferecido gratuitamente pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), em parceria com o Serviço Social do Transporte (Sest), o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) e ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), é feito a distância para facilitar o acesso dos taxistas. As aulas são em CDs, com apostilas específicas.

“Fizemos eu, meu marido, minha irmã e meu cunhado. Dá uma base boa porque é dirigido à profissão. Foram três meses de curso, então dá pra ir se virando. Com o tempo, vou me soltando. O que vale é a prática”, explicou Débora.

“Esses profissionais são os responsáveis por dar as boas-vindas a quem chega nas cidades e precisam estar preparados para isso. Nossa expectativa é que eles estejam cada vez mais preparados para gerenciar seus negócios e se tornarem um autêntico cartão de visita das cidades brasileiras, não só durante os grandes eventos, mas em todas as ocasiões em que o Brasil recebe turistas”, disse à Agência Brasil o presidente da CNT e do Sest-Senat, senador Clésio Andrade (PMDB-MG).

O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), em parceria com o Ministério do Turismo (MTur), também oferece oito cursos de idiomas – inglês, espanhol e Língua Brasileira de Sinais (Libras) –, com mais de 7,9 mil vagas nos estados-sede da Copa do Mundo (Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo). No Rio e em São Paulo, já há turmas formadas.

Esses cursos estão no âmbito do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), especificamente do Pronatec/Copa, criado em 2001. As aulas são gratuitas e as inscrições para o segundo semestre deste ano podem ser feitas pela internet. De acordo com o Mtur, a prioridade é dada às cidades-sede da Copa das Confederações, em 2013. Os cursos são gratuitos e presenciais.

“Muito se fala em inclusão social. Inclusão social é não privar o aluno de baixa renda de se inserir no mercado de trabalho e nas relações sociais por causa da língua, ou da falta dela. Inglês é a completa inclusão social. Ainda é um privilégio de poucos, considerado elitista, o que não pode ser. O inglês precisa ser ferramenta disponível a todos, desde cedo, para a melhor formação profissional do cidadão brasileiro”, disse Nara Vidal.

SECOM / CPP
Fonte: RAC

sexta-feira, 30 de março de 2012

Bilingues raciocinam melhor



Crianças aprendendo inglês no colégio bilíngue Equipe Grau: sem saber, elas estão aprimorando suas funções cognitivas
Foto: Nina Lima
Crianças aprendendo inglês no colégio bilíngue Equipe Grau: sem saber, elas estão aprimorando suas funções cognitivasNINA LIMA
NOVA YORK — Ter a capacidade de falar mais de um idioma pode ser sinônimo de melhor saúde mental. É o que sustenta uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Nova York, cujo resultado foi publicado na revista especializada “Trends in Cognitive Sciences”.
— Estudos anteriores já tinham afirmado que o bilinguismo tem um efeito benéfico no desenvolvimento cognitivo das crianças. No nosso trabalho, revisamos estes estudos recentes usando os métodos comportamental e de neuroimagens para examinar os efeitos do bilinguismo na cognição dos adultos — explica Ellen Bialystok, principal autora do estudo.
Segundo Ellen, a necessidade de monitorar duas línguas, a fim de selecionar a mais apropriada para o momento, solitcita regiões cerebrais que são críticas para a atenção e o controle cognitivo. O processo pode reconfigurar e fortalecer estas redes de controle da cognição, possivelmente aumentando a chamada flexibilidade mental, isto é, a habilidade de se adaptar a mudanças contínuas e processar informações eficientemente.
A pesquisa também sugere que o bilinguismo melhora a reserva cognitiva, isto é, o efeito protetor que a atividade física ou mental tem sobre a função cognitiva, garantindo um envelhecimento saudável. Esta reserva também é capaz de adiar o surgimento de sintomas nas pessoas que sofrem de demência, o que foi comprovado por estudos mostrando que pessoas bilíngues apresentam sintomas de demência anos depois das monoglotas.
— Nossa conclusão é de que a experiência de toda uma vida administrando a atenção dada a duas línguas reorganiza as redes cerebrais específicas (envolvidas no processo), criando uma base mais efetiva para o controle executivo e sustentando uma performance cognitiva melhor ao longo de toda a vida — diz Ellen. — Não seria surpreendente que esta experiência deixasse suas marcas em nossas mentes e cérebros, e agora está claro que o cérebro bilíngue é formatado exclusivamente pela experiência.
Na Espanha, o centro Brainglot, dedicado à pesquisa da linguagem, também estuda as diferenças entre cérebros de pessoas bilíngues e monoglotas.
— As bilíngues usam mais áreas cerebrais na tarefa linguística, recorrendo sobretudo ao lado esquerdo do cérebro (relacionado à linguagem), mas também a algumas regiões do lado direito. Isso quer dizer que, no processo, elas precisam empregar mais áreas do cérebro que as monoglotas. Isso poderia significar uma lentidão pouco significativa na hora de manejar a linguagem, mas a parte positiva é que os bilíngues, ao passar o dia todo mudando de idioma, treinam também suas habilidades cognitivas não linguísticas, mais concretamente as funções executivas, que servem para que se adaptem a estas mudanças. Seria possível dizer que, nesta tarefa, os bilíngues são melhores — disse ao jornal “El País” o cientista César Ávila, que trabalha no Brainglot.


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